Abjecto

Índia. A Fundação Uday suspeita que o maior hospital do país convenceu famílias dos bebés, pobres e analfabetas, a deixar submetê-los a testes gratuitos para laboratórios do Ocidente
A morte de 49 bebés cobaias no maior hospital indiano levantou a ponta do véu sobre o boom da deslocalização dos ensaios clínicos de medicamentos da indústria farmacêutica mundial. A morte destes bebés, em dois anos e meio, foi agora revelada pelo diário Times of India.


O administrador do Instituto das Ciências Médicas de Nova Deli, Shakti Kumar Gupta, disse à France- -Presse que "foi ordenado um inquérito interno" sobre os testes de produtos dos laboratórios suíços Roche e Novartis e do japonês Sankyo Pharma. Em Junho, a Fundação Uday para os defeitos congénitos e os grupos sanguíneos raros agarrou o caso graças a uma lei que dá ao cidadão indiano o direito de interrogar um organismo de Estado. O presidente daquela instituição, Rahul Verma, questionou o hospital público.

Desde 2006 que 4142 bebés (2728 menores de um ano ) foram submetidos a testes. Este reconheceu que "as 49 mortes foram registadas entre os bebés referenciados". Segundo Gupta, estes ensaios foram validados pelo comité de ética e são conformes às directivas. Sem especificar os problemas dos bebés, disse que "os falecidos estavam muito doentes".

A Fundação Uday pediu ao hospital a lista dos medicamentos administrados. O hospital revelou o Rituximab comercializado na Europa pela Roche, para pacientes com "linfoma não Hodgkin agressivo"; a substância Olmésartan para a tensão arterial, da Sankyo Pharma; e o Valsartan, da Novartis, dos EUA, para a hipertensão. "Não houve nenhum teste pediátrico com produtos da Roche na Índia", disse Claudia Schmitt, porta-voz do grupo em Basileia. Sem excluir que "se possa utilizar este Rituximab" no decurso de testes, a porta-voz da Roche francesa, Déborah Szafir, assegurou que "a Roche não o autorizou, nem deu, nem apoiou".

A deslocalização de testes clínicos é um caso a seguir. Calcula-se que este outsourcing valha 120 milhões de dólares em 2007, e cresça 25% ao ano. Até 2010, chegará aos dois mil milhões. Os testes são mais baratos entre 40 a 60% do que no Ocidente. Mas não explicam sozinhos o apetite dos laboratórios pela Índia. "É o mercado indiano que faz sentido", justifica Schmitt.

A Índia tonou-se terreno de testes sem limite pela diversidade da população e pelos batalhões de "doentes com patologias do coração e fígado, mais fáceis de encontrar do que no Ocidente para serem cobaias."
in DN Online

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