O teu mundo

Um sobressalto: uma crise que o leva para o hospital.
Ficará internado?

Mas, o que se passou?

Acordou estranho, baralhado, queria falar mas não conseguia… vi logo que o teria de levar para o hospital e liguei para os bombeiros. Pensei que oferecesse resistência, mas não, vá lá, não queria ir, mas o bombeiro foi tão simpático que ele lá foi.

Assaltaram-me as antigas más recordações: as conversas sem sentido, os duplos sentidos, os momentos de loucura salpicados por momentos ténues de lucidez que angustiavam, porque ele dizia: levem-me eu não estou bem! As (nossas) lágrimas a correr pela cara abaixo, os constantes mas porquê, mas porquê? O correr de manhã cedo, enquanto quase todos ainda dormiam, pela rua abaixo, em pijama e camisa de noite, para pedir ajuda e rezando para quando lá chegássemos tudo estivesse um pouquinho melhor… o medo…

Ontem não foi assim. Foi algo mais "leve", mas a dúvida permanece. Irá passar? Virão por aí os monstros que povoam a minha infância?

No hospital, vasculhámos a carteira à procura dos documentos pessoais que lá não estão.
Poucas coisas lá dentro mas, entre elas, destacam-se umas quantas folhas de papel com muitas contas, cálculos, frases aparentemente sem nexo que relatam pensamentos e/ou vivências… sim, vivências porque está lá escrito Visita rápida ao barbeiro; mais adiante está escrito Parque Catarina Eufémia, Ela aparece de blusa vermelha. E esta frase (tal como tantas outras), subitamente, faz parte da expressão de cálculo e há, quase sempre, um resultado matemático dessa expressão. Algures: porque não Portugal senhor do Ultramar? Noutra folha: guerra, guerreiro (um dos seus apelidos)…

Assusto-me, as lágrimas correm devagar, mas passo a mão pela cara para que desapareçam por entre os dedos, ela vem aí não a quero perturbar mais.

Fomos para casa. Aparentemente, apenas uma crise de descompensação… um susto valente, uma angustia que se adensa, o medo que regressa, agora com a clara noção de que não há nada a fazer a não sei aceitar o melhor possível.

Mas na minha cabeça permanece sempre uma dúvida: como será o seu mundo? Que estranhas criaturas ou pensamentos o povoam?

1 notas:

zarah disse...

Chorei contigo, agora.